Texto de Formação

As duas asas do Espírito Santo

As duas asas do Espírito Santo

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO – VILA PAULISTANA – SP

CATEQUESE PERMANENTE

ÁREA: LITURGIA

As duas asas do Espírito Santo

(Dom Pedro Casáldaliga – Bispo emérito de São Félix do Araguaia)

É bom lembrar, que o Espírito Santo não é uma pomba; é Espírito, não tem corpo. A Santíssima Trindade - o Deus em quem nós acreditamos, é Pai, Mãe, Filho e Espírito Santo. As três pessoas divinas, num só Deus.

Agora na bíblia e depois no catecismo, nas igrejas, nos quadros religiosos, no giro do divino, o Espírito Santo nos é apresentado em figura de pomba “sois uma pomba excelente, toda vestida de branco”, cantam os foliões.

Batizado no rio Jordão, Jesus saiu da água – conta o evangelho de são Mateus, no capítulo 3 - “e logo os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e pousando sobre ele”.

Daí, a figura de pomba que o Espírito Santo ganhou na igreja. Podemos, então, utilizar esta figura, para falarmos do divino.

A gente diz que o Espírito Santo tem duas asas. Por que?

De um lado, o espírito nos leva a oração, a interioridade, à paz. De outro leva a ação, ao compromisso, a luta.

O mesmo espírito, dos dois lados! Nunca nos leva as nuvens, a indiferença, a omissão. Sempre é “o Espírito da verdade”, o “Pai dos pobres”, o “Espírito da vida”, “ventania e fogo”.

Aquela passagem do evangelho que marca o início da vida pública de Jesus  deveria ser suficiente para entendermos como o  Espírito Santo é “agitador”, debelador da injustiça e da opressão, - “revolucionário do mundo”:

Chegou Jesus a Nazaré, onde se criara. Entrou num sábado na sinagoga e se levantou para fazer a leitura . Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o manuscrito, deu com a passagem onde lia:

O espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para anunciar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para por em liberdade os oprimidos e para anunciar um ano de graça do Senhor”. (Lc 4, 4-19)

 Jesus tomado pelo Espírito parte para sua missão de evangelizador dos pobres e libertador do mundo. Maria cheia do Espírito Santo proclama a derrubada dos poderosos e exaltação dos humildes.

No dia de pentecostes, os primeiros discípulos, sacudidos pelo vento e pelas chamas do espírito, se lançam  a dar testemunho do ressuscitado, vencendo o medo, enfrentando os grandes, os perigos, a morte.

Há muitos cristãos que gostariam de reduzir o Espírito Santo a uma pombinha sem reivindicações, branquinha e sossegada. Boa para cantar aleluias, para chorar de emoção, para levantar os braços ao céu, tirando os pés da terra...

Esses cristãos cortam uma asa do Espírito Santo: aquela do compromisso e da ação, aquela da libertação e da luta. Também não vamos cortar a outra asa: aquela da oração, do silêncio, da paz. Um Espírito Santo manco não é mais o Espírito de Jesus!

Nós queremos o Espírito completo. Queremos seguir o Espírito com toda fidelidade. Orando e agindo, na mansidão e na luta. Ao impulso das duas asas, abraçando a terra e o céu, o pai e os irmãos.


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