Com palavra, o vento e o fogo!
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO – VILA PAULISTANA – SP
CATEQUESE PERMANENTE
ÁREA: LITURGIA
COM A PALAVRA, O VENTO E O FOGO!
Reflexões a partir de Atos 2, 1-11
Lá fora a festa estava animada. Celebrava-se o Pentecostes, festa antiga da tradição judaica em gratidão porque a terra dera o seu fruto (Sl 67). Havia gente de todo lugar. Enquanto isso, a Igreja, reunida, estava fechada dentro de uma casa, tal qual o relato de João:
“Chegada, pois, a tarde daquele dia, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham juntado, chegou Jesus e pôs-se no meio, disse-lhes: Paz seja convosco (...) e tenho dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (20, 19-22).
No livro dos Atos dos Apóstolos – que alguém certa vez sugeriu que deveria se chamar Atos do Espírito Santo -, Lucas conta que o vento soprou dentro da casa onde se encontravam os discípulos e as discípulas de Jesus (v.2) e que foi assim que aconteceu o Pentecostes Cristão.
Não é surpreendente que tal experiência pneumática tenha se dado num lugar fechado e com tais efeitos especiais? O Pentecostes cristão é sinalizado, nesta perícope, por três elementos enfáticos que caracterizam a ação do Espírito Santo na comunidade dos/as discípulos/as: o Vento, o Fogo, e a Palavra. E podemos notar que a dinâmica espacial do texto sugere um movimento que conduz do cenáculo para a rua. Tais elementos e tal movimento nos levam a pensar nas implicações da doutrina do Espírito Santo para a vida das Igrejas. Comecemos por considerar o primeiro elemento: o vento.
O Espírito é vento impetuoso
O Espírito é vento impetuoso capaz de arejar a mais fechada das comunidades.
Constatamos, inicialmente, que o Pentecostes cristão acontece de dentro para fora e de forma inevitável. Não pode ser fabricado, ou manipulado, nem provocado pela ação humana – e esta tão pouco pode resistir-lhe. É manifestação da graça divina que desce e visita a comunidade de fé. E, sendo de Deus, não pode ser limitado no seu alcance e, por isso, é experiência comunitária para toda a casa (v.2), isto é, para todos da casa.
O vento (pneuma = espírito) é incontrolável – “O vento sopra onde quer...” (Jo 3.8). Os discípulos e discípulas não imaginavam quão radical podia ser tal afirmação de Jesus, até que a experimentaram no dia de Pentecostes. “Onde quer”, para Jesus, significa que o vento pode soprar até mesmo dentro de uma casa fechada.
Isso indica que mesmo o grupo mais ensimesmado e obtuso pode ser visitado por esse Vento Impetuoso. A comunidade cristã é, assim, arejada pelo Espírito Santo.
Consideremos, agora, o segundo elemento: o fogo.
O Espírito é labareda de fogo
O Espírito é labareda de fogo capaz de aquecer a pessoa mãos gélida.
O Pentecoste cristão, além de ser experiência para toda a Igreja, é experiência para cada discípulo e discípula. Segundo o relato do livro Atos, línguas de fogo são distribuídas “uma sobre cada um” (v.3) e cada uma. A ação do Espírito é, portanto, labareda de fogo que aquece o coração da pessoa que integra a comunidade de fé.
Não é massificadora, mas também não é marginalizadora. Mesmo a mais insensível das personalidades pode ser transformada pela presença do Espírito Santo. É para todos, mas também é pessoal e respeita a Sendo para todos e todas e para cada um e cada uma, não faz acepção de pessoas. O Espírito sopra onde quer, independente da vontade humana – sem precisar depender das virtudes da pessoa – pois é a graça de Deus.
Portanto, espiritualidade não é requisito para se receber o Espírito Santo, mas, antes, conseqüência da presença desse Espírito na nossa vida.
Tal presença sensibiliza e move o discípulo e a discípula para a missão. O Espírito Santo nos arranca do cenáculo e nos leva para a rua e para a experiência do terceiro elemento: a Palavra.
O Espírito é palavra divina na boca dos fiéis
O Espírito é a palavra divina na boca dos fiéis capaz de fazer-se compreendido nos ouvidos das nações.
O Pentecostes cristão é experiência para toda a Igreja, para cada discípulo ou discípula e também o é para todas as nações. A comunidade cristã, até então fechada em si mesma, uma vez arejada e aquecida pelo Espírito Santo, torna-se aberta, comunicativa e simpática (cf. 2.47).
Tímidos discípulos se tornam ousados pregadores que ganham a rua e fazem do mundo sua paróquia. E, ao contrário do que muita gente pensa, ao invés de falar em língua estranha, eles começam a pregar em um idioma muito familiar para seus ouvintes.
E gente de toda parte se admira porque, pela primeira vez, ouvem falar das maravilhas de Deus em sua própria língua (cf. vv. 7 e 8).
Mais uma vez, o Pentecostes é experiência para todos e para cada um. Para todas as nações e para um na sua particularidade – pois o emprego das línguas natal é a demonstração da intimidade e respeito pela individualidade com que Deus trata as pessoas, as Igrejas e também as nações.
Conclusão
Provocados pela ação do Espírito que invade o espaço fechado pelo medo e abre as portas da Igreja para o mundo carente de ouvir as maravilhas de Deus na sua própria língua, somos motivados a orar para:
· Que preconceito, o orgulho e o medo não levem nossas comunidades a se fechar;
· Que o Pentecostes cristão renove o ar, muitas vezes viciado, de nossas comunidades e sopre sobre elas o vento da liberdade e da libertação;
· Que nossas comunidades, pastores, pastoras e bispos não caiam na tentação de querer manipular, controlar ou limitar as manifestações do Espírito, que sopra onde e como quer.
Uma vez que o milagre do ouvir das nações se dá quando acontece o milagre do falar das igrejas, oremos para que nossas igrejas se abram e estabeleçam uma comunicação eficiente com os de fora da comunidade.
Oremos, ainda, pelas nações, sedentas das admiráveis maravilhas de Deus. Que essas maravilhas lhe sejam anunciadas pela a boca da Igreja numa linguagem familiar; íntima, comunicativa que respeite as particularidades de cada interlocutor.
Finalmente, irmãs e irmãos, o Pentecostes é um apelo a que sejamos a comunidade do Espírito: que sopre sobre nós o Seu vento impetuoso e descortine diante de nós o horizonte do Reino de Deus; que desça sobre cada um e cada uma de nós o Seu fogo e nos faça arder os corações; que sejamos a comunidade da Palavra, para que o respeito pela particularidade e individualidade de cada um e de cada uma nos permita o diálogo, a compreensão e o anúncio das maravilhas de Deus, desde a nossa comunidade local, passando por todas as igrejas e até o confins da terra. Assim Deus no ajude!
(Texto do Prof. Luis Carlos Ramos extraído do Livro Liturgia e Arte – Ed Vozes)